Hoje entupi…

Desta não foi como das outras vezes, agora sei o que é entupir, ficar algo preso na banda que nem passa, nem deixa passar sequer a saliva. É uma sensação nada agradável e o vómito inevitável. Tudo aconteceu com um bocadinho de coelho e pão, era um normal coelho estufado da parte mais seca do lombo e um pedaço de pão de cereais. Foi logo ao fim da 3ª ou 4ª garfada. Começou como das outras vezes, senti a comida empancar na “banessa” e depois vieram os soluços, só que desta vez a dor fininha e a sensação de que está a passar não aconteceu. A saliva foi aumentando e tornando-se mais espessa, a capacidade de engolir desapareceu e foi ai que se formou o primeiro vomito e então tive a noção que seria desta vez que vinha fora, foi preciso quase ano e meio e um simples pedaço de coelho. Estava no trabalho como de costume e desta vez estava sozinho, só estava um cliente na loja e felizmente já era um cliente antigo. Fui até lá fora para apanhar ar que já nem falar conseguia tal era a quantidade de saliva acumulada e foi ai que vomitei pela primeira vez. Não era um vómito normal, não me deixou mal disposto, não tinha sabor amargo, não tinha cor, era somente saliva com uns minúsculos pedaços de coelho mastigado, era viscoso e grosso, mas limpo e inócuo, nada do que estava a espera. Senti-me aliviado, a sensação de mau estar passou e voltei para dentro e atendi o cliente. Só que ao contrario do que me parecia ainda não tinha acabado, o coelho ainda estava preso na “banessa” e a saliva já estava a acumular outra vez, sem ter noção disso bebi 2 golos de água e percebi logo que tinha feito uma enorme asneira, pois a água não desceu e tive de vomitar pela segunda vez, em tudo igual a primeira, sem cor, sem cheiro, sem sabor, mas grossa, espessa, parecia um pega monstro incolor e ao cair no chão da rua parecia ter vida própria, como o rasto de um caracol com 20cm de tamanho. Lavei tudo a mangueirada e felizmente chegou a patroa. Fui ate a casa de banho onde fui salivando sem mais vomitar e ao fim de alguns minutos que me pareceram horas lá senti a “banessa” ficar livre e desimpedida. Desde essa vez já tive os ligeiros entupimentos que dantes sentia e com a intensidade deste nunca mais se repetiu. Felizmente embora sozinho esteve sempre lá alguém comigo, alguém que partilhou da minha aflição e me deu a ajuda necessária para me aguentar. Obrigado meu Amor. Mesmo só à distância de um fio de telefone senti o teu carinho e ajuda.
Vou ter de arranjar agora um novo termo para definir os ligeiros entupimentos que não passam de meros grãos de areia mais grossos em comparação com este calhau a passar na ampulheta em que a “banessa” transformou o meu estômago. Vou-lhes chamar “estupidamentos” pois a maior parte das vezes devem-se a “estupidez natural” de quem ao fim de tanto tempo ainda não aprendeu a mastigar e a comer pausadamente.
Fim aos “estupidamentos”, nunca mais aos entupimentos, coelho até á próxima que o bicho não teve culpa nenhuma e pão sempre muito bem mastigado…

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